BOSTON – Romarlio Rabelo, 42, um cidadão brasileiro, trabalhador imigrante, entrou ilegalmente nos Estados Unidos e foi deportado em 2010, mas, em 2019, voltou ao país se entregando à Patrulha de Fronteira na divisa com o México. De lá para cá seu caso entrou em análise o obrigando todos os anos a fazer um procedimento de verificação no escritório do ICE em Burlington, Massachusetts.

Essa seria uma história comum a muitos imigrantes não fosse um erro grotesco que sensibilizou até políticos locais que escreveram cartas em favor do brasileiro. O número de identificação de Rabelo era igual ao de outra pessoa. Essa sim procurada para ser extraditada.

O drama de Rabelo começou no dia 7 de maio. A última visita ao ICE mudou o rumo de sua vida e, por consequência, de sua família. Ele foi orientado a sair de Burlington para o prédio do ISAP – Intensive Supervision Appearance Program (Programa de Comparecimento com Supervisão Intensiva) em Framingham.

Lá descobriu o erro. O ‘Alien number’ destinado a Rabelo em sua reentrada nos EUA era o mesmo que identificava outro imigrante: Jacson Souza Silva.

Na sala de espera do ISAP Rabelo ouviu a brasileira Lidia Terranova chamar por Jacson. “Ela chamou algumas vezes e depois gritou dizendo que era comigo. Eu imediatamente falei que meu nome não era aquele. Mas a Lidia disse que, mesmo não sendo eu a pessoa, aquele era o meu ‘Alien’ e mandou que me colocassem uma tornozeleira com GPS e me deu sete dias para sair dos Estados Unidos”, conta.

Os documentos aos quais a MANCHETE USA teve acesso constam a identificação 098488082 e o nome de Jacson. O número é exatamente o mesmo que aparece no Employment Authorization (autorização de trabalho) de Rabelo.

“Eu mostrei a ela meu permit de trabalho, minha carteira de motorista e meu social (cartão de seguro social) e em todos os lugares constam meu nome correto. Ela sabia que não era eu mas não moveu uma palha para ajudar. Muito pelo contrário, ela parecia gostar do que estava acontecendo”, explica Rabelo.

O brasileiro decidiu comprar sua própria passagem para evitar ser preso e contratou o serviço de um advogado.

“Paguei $ 4 mil ao advogado que me disse que eu teria que ir embora porque não tinha prazo suficiente para resolver. Na véspera de minha viagem ele falou que havia entrado com um recurso mas o oficial que retirou minha tornozeleira no Logan (aeroporto internacional de Boston) me garantiu que não havia nenhuma entrada ou pedido de advogado a meu favor. Ou seja, ele não fez nada.”

Rabelo trabalhava em Rhode Island numa fábrica de gabinetes e a empresa reuniu cartas de deputados estaduais em favor da reversão do caso. Mas nada foi o suficiente.

Em  Fall River, onde morava, a esposa e os filhos (um menino de 12 e uma menina de seis anos) esperam o fim do ano letivo para também voltarem para o Brasil. “Meu filho disse que só sabia escrever em inglês e agora vai ter que começar a vida aqui também”, afirma.

De volta a Governador Valadares, Rabelo está temporariamente hospedado na casa da irmã, esperando a família chegar ao Brasil.

“Vou ter que montar algum negócio aqui. Eu não estava preparado para voltar agora. A gente vinha ouvindo falar da pressão do ICE, das prisões mas eu agindo com tudo certinho não imaginei que seria uma das pessoas deportadas do país.”

A base fática para essas gravíssimas imputações a Rabelo é frágil, para não dizer inexistente. Ninguém aceitou seus argumentos e nem mesmo os documentos oficiais americanos apresentador no ISAP.

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